O chamado “tarifaço” imposto pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendeu debates sobre possíveis oportunidades para o mercado de exportação brasileiro. Setores como o de ovos e a fruticultura do Vale do São Francisco, em especial em Pernambuco, foram apontados como potenciais beneficiados por especialistas. No entanto, representantes do setor produtivo na região mantêm um tom de cautela.
Segundo José Gualberto, presidente da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), o impacto das tarifas não trará grandes mudanças para os exportadores locais de frutas. “A quantidade de fruta que a gente exporta para os EUA é pequena em relação à dos nossos concorrentes, que vão sofrer a mesma tarifação”, afirmou.
Ele destaca que, no caso da manga, principal produto exportado para o mercado norte-americano, o Brasil ainda está atrás de países como México, Espanha, Equador e Peru. “O México, por exemplo, exporta dez vezes mais que o Brasil. Não haverá nem vantagem nem desvantagem para nós com esse cenário internacional”, analisou.
Consumidor americano deve arcar com alta dos preços
Gualberto também apontou que o principal impacto será sentido pelos consumidores americanos, que enfrentarão preços mais altos com a aplicação de tarifas adicionais. “A tarifa que atingiu o Brasil foi linear para todos os países. Já pagávamos 8% e agora passa para 18%, o que encarece os produtos no destino final”, explicou.
Avicultura de Pernambuco enfrenta obstáculos logísticos
No setor de avicultura, a exportação de ovos ainda está distante de se tornar realidade em Pernambuco, conforme avaliação da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe). A produção local é consumida quase exclusivamente na região Nordeste, principalmente por restrições logísticas e de transporte.
Segundo a Avipe, granjas exportadoras estão localizadas principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, regiões próximas a infraestruturas de escoamento como o Porto de Santos e o Aeroporto de Guarulhos, que garantem maior agilidade dentro do prazo de validade do ovo, um produto altamente perecível.
Porto de Suape e voos internacionais limitam exportações
Outro entrave para a expansão pernambucana no mercado externo é a baixa competitividade do Porto de Suape no que se refere à exportação de ovos. De acordo com a Avipe, o transporte via Suape encarece significativamente o custo logístico, tornando a operação pouco viável economicamente.
Além disso, a falta de voos internacionais diretos do Aeroporto do Recife para países africanos — considerados destinos estratégicos pela proximidade geográfica — reduz as chances de abertura de novos mercados, mesmo em regiões com potencial de demanda.
Oportunidades limitadas sem soluções estruturais
Embora o tarifaço de Trump tenha criado um novo panorama comercial mundial, o setor produtivo pernambucano ainda enfrenta barreiras estruturais que limitam seu protagonismo em mercados como o dos Estados Unidos. Sem melhorias logísticas, aumento de competitividade e investimento em infraestrutura, oportunidades como essa seguirão sendo percebidas mais como desafios do que como janelas reais de crescimento.